Querido Vitor

Data: 5 de out de 2018

Assunto: Querido Vitor

Querido Vitor,

Fui inspirada a escrever cartas por um filme lançado recentemente.
Não cartas de amor como no filme, mas cartas dedicadas a pessoas que fizeram parte da minha vida. Uma parte considerável. Principalmente porque de alguma forma eu as amei e de alguma forma essas pessoas mudaram a minha vida.

Você foi uma delas.

Eu conheci você aos 13 anos. Era meu primeiro dia de aula em uma escola "nova". Não nova de verdade, eu já tinha estudado lá antes, mas nova porque tudo e todos tinham mudado.

Na versão antiga daquela escola eu não conhecia você, então nosso começo foi um começo real. Do zero. Sem um antes.

Quando eu disse que as cartas que estou escrevendo são sobre pessoas que mudaram minha vida eu não estava exagerando. Conhecer você me mudou.

Antes do recomeço nessa fase nova da minha vida eu nunca tinha tido amizades com meninos... Soa estranho, mas é a mais pura verdade.

Eu nunca fui incentivada por meus pais a manter relacionamentos de qualquer tipo com pessoas do sexo oposto, então sim, você foi meu primeiro amigo homem.

Você não foi o amigo homem que eu achei que seria e isso foi bom.

Até aquele momento eu achava que meninos e meninas não podiam ser amigos. "Não existe amizade entre homem e mulher" diziam meus pais e eu acreditava. Até não acreditar mais.

Conhecer você foi tranquilo, suave. Você me recebeu naquele mundo de um jeito delicado, tão delicado quando se pode ser quando você é um menino de 13 anos...

Você foi legal, foi gentil.

Você fez eu me sentir a vontade na situação mais desconfortável do mundo que é quando se é novo em um lugar estranho.

Depois desse começo agradável, você não se afastou como as outras pessoas que só se apresentaram e partiram. Você ficou.

Os dias passaram e você estava lá, obviamente você tinha suas outras amizades e tal, mas você sempre estava lá.

Ter você comigo naquela época foi tão importante que mudou a minha vida. Mudou a perspectiva que eu tinha sobre relacionamentos com outras pessoas.

Eu era fechada para o novo, tímida e até antissocial, alguns diriam e então você veio e desbravou uma das partes de mim que eu reconheço hoje.

Eu me lembro de tudo daquele ano quando te conheci.

A gente brincou, cantou, você tinha preguiça de fazer seu cabeçalho todos os dias e eu fazia no seu caderno.

Você me chamava de "brisa", lembra? Eu lembro e lembro o por que... Eu tinha e ainda tenho uma imaginação fértil e eu me sentia tão à vontade com você que me permiti compartilhar alguns dos meus mais doidos devaneios. Por isso o apelido carinhoso. Eu adorava.

Isso tudo no nosso mundo particular que tinha como cenário uma sala de aula de escola pública.

Mas em determinado momento nossos caminhos se distanciaram.

Num primeiro momento a mudança de sala não pareceu que afetaria nossa amizade. Eu não poderia estar mais errada.

Uma amiga em comum, a Letícia, ficou na sala com você enquanto eu fui pra outra. Eu e ela continuamos juntas. Mas nós não.

Em algum momento dessa nova fase ela me disse uma coisa sobre você que mudou ainda mais minha vida.

Ainda acho que "mudar" é uma palavra leve, na verdade virou de cabeça pra baixo a forma como eu te via e como passei a me sentir com relação a você e isso, definitivamente, mudou a minha vida.

Nesse momento acho importante descrever com detalhes como essa conversa aconteceu para que se entenda porque essa mudança ocorreu em mim.

Estávamos eu, a Lê e uma amiga dela, Ana, no recreio da escola. Estávamos paradas as 3 encostadas em uma grade conversando e você estava com um grupo de amigos não muito longe de nós. Nossos olhares, meu e seu, se cruzaram e você acenou pra mim (nossa separação de sala também gerou uma mudança na forma como a gente se comunicava... 
Vai entender). Desse aceno a Ana fez uma pergunta que me espantou, pois eu jamais havia pensado naquilo. Ela perguntou se a gente, eu e você, já tínhamos "ficado" (eu odiava e ainda odeio essa gíria). Na mesma hora eu fiquei chocada e disse que não e automaticamente perguntei por que ela estava perguntando aquilo. E ela disse "porque ele gosta de você". Até aí ok. Eu não a conhecia e ela não me conhecia, então porque aquilo faria sentido?

Mas na sequência veio o fato que mudou tudo.

Depois que ela falou isso eu fiquei de boca aberta e então a Letícia disse "É verdade!". Meu coração parou. A Letícia era minha melhor amiga e conhecia nós 2 e de onde ela tiraria aquilo?

Foi como um soco na cara.

Ao mesmo tempo que fiquei pasma, me senti especial. Ninguém nunca tinha “gostado” de mim. Daí pra frente eu te enxerguei diferente.

Parece que uma coisa que estava na minha cara se tornou clara: eu “gostava” de você também.

E isso mudou tudo.

Parece doido que do nada eu me apaixonei por você. É a primeira vez que eu digo (escrevo isso). Eu me apaixonei por você.

Pode ser que fosse só um carinho forte de amizade, mas na hora pareceu que aquilo era amor e daí em diante eu carreguei esse sentimento.

Eu já não conseguia te olhar do mesmo jeito, coisa de adolescente, ficava tímida.

Quando fomos pro ITB eu estava me sentindo crescida. Uau! Era o colegial. Aí eu achei que talvez pudesse rolar algo entre a gente (não sei de onde tirei isso), mas então, você acabou gostando de uma das minhas melhores amigas e eu assisti. Você namorou outras meninas e eu assisti.

Na verdade eu acho que você nunca gostou ou me quis desse jeito. Acho que o que as meninas me falaram era só uma bobagem de criança que fala demais.

Eu nunca contei sobre isso pra ninguém. Era algo secreto, só meu. Nenhuma das minhas amigas do colegial sabia, até porque metade delas também eram suas amigas.

Um monte de coisa aconteceu de lá pra cá e eu assisti. Acompanhei muitas coisas nas redes sociais... Vi você ficar noivo (eu acho...), fazer faculdade, passear com os amigos, vi você crescer pela tela do meu computador/celular.

Parece maluquice, mas eu te vi por todos esses anos e não, eu não sou uma stalker louca, só pra deixar claro. E aquele sentimento da 8° série ainda estava aqui.

Cada curtida sua em alguma foto do meu Instagram me fazia sentir borboletas no estômago... Doido, né?

Depois de anos sem contato você me chamou pro seu aniversário. Eu fiquei eufórica, ia finalmente ver você em pessoa depois de ver você de longe... Tá confesso que também já te vi de longe nos shoppings, na rua, no bar do seu irmão...

Mas eu não pude ir ao seu aniversário e mesmo assim eu segui gostando de você.

Depois de uns 10 anos gostando de você, aconteceu uma coisa que partiu meu coração. 

Chegou o dia do amigo, uau! Milhares de montagens apareceram no feed do meu Instagram uma era sua. Nela havia fotos de seus amigos, inclusive de pessoas que estudaram com a gente. E eu não estava lá. Óbvio que eu não estaria. A gente não é mais amigo. Não mantivemos contato.  Porque raios lá teria uma foto minha?

Não sei... Mas nesse dia caiu a minha ficha de que você nunca teve ESSE sentimento por mim. Me ocorreu que o que as meninas me falaram fosse coisa de criança e que eu, como a criança que era, acreditei e abracei tão fortemente, porque ninguém nunca tinha sentido aquilo por mim e mesmo que não fosse real e não correspondido foi gostoso sentir a sensação de que alguém me queria daquele jeito.

Não posso dizer que não tenho mais nenhum sentimento por você. Não posso mesmo. O carinho vai existir pra sempre. Mas hoje pelo menos sei que essa coisa é unilateral. É só minha e tá tudo bem, porque eu jamais vou poder deixar de ter carinho por você, simplesmente porque você aconteceu pra mim e isso me mudou. Isso, seja lá o que for, mudou a minha vida.

Com amor,
Bianca.

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