Fora do Padrão


     Por 10 anos eu fui escrava do padrão.
A ditadura do “perfeito” me perseguiu.
O padrão se aplica a tudo em uma mulher: no corpo, no rosto, no cabelo, na maquiagem, na roupa, em tudo.
No meu caso o cabelo perfeito me prendeu ao padrão por um longo tempo. Longo demais.
Por anos a fio (que expressão adequada) tive meus fios agredidos para me encaixar no padrão. Submeti meu organismo a loucuras para me sentir incluída, pelo menos nesse aspecto, já que nunca me encaixei no padrão físico de beleza.
O que eu tinha para me enquadrar no padrão do “bonito” era o cabelo, mas não o meu cabelo, o cabelo com o qual eu nasci, mas o que era transformado, moldado e esticado para ser aceito e considerado bonito.
O padrão esmaga, o padrão machuca e o padrão é cruel. Sim, o padrão esmaga a sua natureza, pois você se sente obrigada a entrar em um contorno estabelecido por algum maluco que é, na maioria das vezes, inalcançável; o padrão machuca sua mente ou seu corpo, no meu caso os dois e o padrão é cruel a ponto de te levar a pensar que só terá valor e aceitação se segui-lo e alcançá-lo, ainda que só um pouquinho.
Desculpe a sinceridade, mas padrão é uma merda.
Há aproximadamente um ano e meio venho passando por um processo de autoconhecimento e percebi que o padrão não significa nada. As coisas tem o significado que damos a elas.
Se você acredita que aquilo é importante então aquilo será importante. Pra mim o padrão do cabelo liso perfeito e sem nenhum fio fora do lugar foi importante, extremamente, até não ser mais.
Você tem ideia de como dói fazer uma escova progressiva? Talvez você tenha, mas se não tem posso te dar um esboço : queima, puxa, queima, estica, queima, arde e queima mais a ponto de deixar queimaduras no seu coro cabeludo por dias. Como eu disse, o padrão machuca. Literalmente.
Depois de refletir e abandonar pessoas e ambientes nocivos a minha sanidade a clareza veio a tona: quem se importa?
Quem se importa se meu cabelo é liso? Quem se importa se minhas roupas são caras ou não? Quem se importa com o meu peso? E o mais importante: isso é da conta de alguém?
Eu me importava e pode ser que algumas pessoas se importem ainda, não de verdade, mas eu não me importar mais pode incomodar alguém de alguma forma, porém novamente vem a questão: quem se importa com o que o outro pensa do outro?
O que tem relevância é o que você pensa de si e como se sente com isso.
Então eu disse chega. Chega ao padrão, chega a dor, chega ao me sentir obrigada a seguir um fluxo que eu não sabia (e não sei) onde é o fim nem qual o objetivo, chega de levar porrada do padrão e sempre deixá-lo me derrubar.
Não que você se importe ou que seja da sua conta. É só uma reflexão e importa pra mim e talvez importe para mais alguém.
E por que “falar” isso aqui em público e online?
Porque eu quis. Seguir vontades também é algo limitado pelos padrões. Eu não disse que o padrão gere tudo? Mas como já chutei esse abusado pra longe da minha vida eu não me limito mais a agir como esperam que eu faça. A menos que eu queira. Mas não quero. Não mais.
O padrão te coloca numa caixa tão esmagadora que quando você sai, pensa em por que levou tanto tempo para espiar para fora e se libertar.
Sair do padrão é libertador, é respirar ao emergir de ondas que te arrastaram por muito tempo. E a liberdade te abre os horizontes, te encoraja, é ilimitada e é assustadora, pois agora você não tem mais diretrizes para seguir, não tem regra. Vale tudo.
O medo de desafiar o padrão faz parte do processo, mas o não e a rejeição já existem e já foram esfregados na nossa cara e por isso caímos na caixa de Pandora que é o padrão, então vai, mete a cara e busca o seu sim.
A vida é o que acontece enquanto estamos ocupados fazendo planos. Decidi não viver mais o rascunho da minha vida. Cada dia é único. Cada dia é uma oportunidade.
Estou no meu caminho tropeçando e caindo de vez em quando, mas eu levanto e vou atrás do melhor. Sempre.
O medo faz parte. Enfrentar um gigante desses é aterrorizante e desafiador. O primeiro passo é sempre mais difícil, mas depois dele só vem satisfação.
Não sei quem vai ler isso, provavelmente ninguém além de mim (quem lê algo com mais de três linhas hoje em dia?), mas sim, é possível ser feliz mesmo sendo “fora do padrão”, sendo você.
“As pessoas vão me aceitar?” Sim e não. Sempre tem aqueles alienados que vivem no mundo da lua e desdenham quem não está na mesma frequência, mas essas pessoas não importam ou não deveriam importar. Quem realmente é relevante são as pessoas que te querem bem independente das suas roupas, cabelo, peso, padrão. As pessoas, assim como as coisas, tem a importância que damos a elas. Valorize quem se importa com você independente dos rótulos sociais e não àquelas que só enxergam a aparência. A beleza acaba, mas o sentimento, quando verdadeiro, não. Se cerque de boas vibrações, de pessoas queridas e de muito amor.
Não sou terapeuta nem treinadora de autoestima. Não sei teorias de psicanálise nem nunca li Freud mais do que de forma rasa no colegial, mas sei lá, caso você tenha tido paciência de me aguentar até aqui, meu conselho é: afrouxa o cinto, pega uma bebida e bons amigos e relaxa. Curte um pouco. Cabelo bagunçado, cara limpa, pé no chão. Só vai, tenta. É muito bom.
Um beijo pra quem quiser!!

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